De Galtiery Rodrigues – O Hoje
A greve dos servidores administrativos das instituições federais de ensino no Hospital das Clínicas (HC) completa hoje 30 dias. No período, cerca de 60 mil procedimentos, entre exames e consultas deixaram de ser feitos. A paralisação do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior de Goiás (Sint-Ifes/GO) começou no dia 18 de junho e, diante da falta de diálogo com o governo, o movimento grevista não vê perspectiva de retomada dos trabalhos, nas próximas semanas.
Até então, não houve sinalização do Palácio do Planalto sobre a abertura de negociação com os servidores administrativos através do Comando Geral de Greve. Eles reivindicam por reajuste salarial, que deveria ter acontecido em 2010. A última mudança ocorreu em 2007, com validade para três anos. A pressão agora é para que o governo faça logo a proposta, porque o prazo legal para envio de projeto de reajuste salarial para apreciação do Congresso Nacional vence no dia 31 de agosto.
“Se até lá a presidente Dilma não fizer isso, podemos jogar nossas capangas nas costas, cada um seguir seu rumo e esperar para reivindicar só no ano que vem”, diz a coordenadora geral do Sint-Ifes em Goiás, Fátima Reis. A tendência do movimento é esperar pelo posicionamento do governo federal, mesmo que este seja nulo. Enquanto isso, 16 hospitais universitários do País que aderiram à greve, entre eles o HC de Goiânia, ficam com o atendimento limitado, prejudicando o resto da saúde pública.
Parcial
No caso do Hospital das Clínicas, os grevistas decidiram por paralisar só parte das atividades. Os atendimentos de urgência, emergência e os procedimentos que implicam em risco de vida, como quimioterapia, radioterapia, hemodiálise e combate a doenças infeccionas, continuam sendo feitos. No entanto, apesar da importância do HC e da variedade de especialidades e serviços ofertados, a maior parte dos agendamentos é para exames e consultas. No ano passado, foram realizadas 282.561 consultas e 873.023 exames.
O Hospital tem papel importante para a saúde do Estado e até da região, chegando a atender pessoas de outras localidades. Sem o atendimento inicial feito no HC, as unidades da Saúde municipal, como Cais e Ciams, sentiram aumento na procura. Nas primeiras semanas de greve, o aumento chegou a ser de 20% nos Cais de Goiânia. A diferença deve ter sido sentida também nas cidades do interior. Muitas pessoas são trazidas pelas prefeituras para serem tratadas na capital e o HC é quase sempre o destino desses pacientes. Até por isso, é comum ouvir histórias de pacientes que saíram de suas cidades para o tratamento médico em Goiânia e teve de ir embora sem ter o objetivo concluído.
Câncer de mama
Ontem, a dona de casa Valdete Ione de Oliveira, de 53 anos, veio de Acreúna, a 157 quilômetros de Goiânia, para marcar o início da quimioterapia. Desde 2005, a senhora enfrenta o tratamento contra o câncer de mama e diz que sem a assistência recebida no HC, é pouco provável que conseguiria prosseguir com a tentativa de cura. “Graças a Deus, não fui afetada pela greve”, diz a senhora.
No início, Valdete foi tratada no Hospital Araújo Jorge, mas desistiu quando não teve mais condições financeiras de bancar as idas e vindas entre a capital e Acreúna e arcar com os custos de alimentação e medicamentos. Ela só esperou ser operada, em 2006, e abandonou a assistência médica. Em outubro do ano passado, o tumor voltou a aparecer e não restou outra solução. Valdete e o marido procuraram ajuda e o HC foi a primeira alternativa. “Sou muito bem tratada aqui. É um hospital muito importante. Começo a quimioterapia em 10 dias”, conta.