Em plena campanha nacional pelo fim da violência contra a mulher, assassinato de duas servidoras revela omissão do Estado, cultura de silenciamento e urgência de políticas reais de proteção nas universidades e institutos federais.
Duas servidoras públicas foram assassinadas a tiros dentro do CEFET-RJ, no dia 28 de novembro, por um colega de trabalho que já havia demonstrado incapacidade de lidar com o fato de ter uma mulher de chefia. O crime, ocorrido em plena campanha nacional pelo fim da violência contra a mulher, escancara as falhas do Estado em proteger vidas femininas e denuncia a persistência da misoginia institucional em espaços que deveriam promover educação, equidade e segurança.
Iniciamos dezembro com várias notícias de feminicídio no país — e justamente em meio à campanha nacional de 21 dias e à mobilização internacional de 16 dias pelo fim da violência contra a mulher. O recente assassinato de duas servidoras no CEFET‑RJ não é um acidente: é o reflexo brutal de uma estrutura patriarcal que violenta sistematicamente mulheres — inclusive dentro de instituições públicas de ensino, que deveriam ser espaços de formação, inclusão e respeito à dignidade humana.
O que os dados mostram?
Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, elaborado pelo Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, os dados oficiais indicam que o Brasil continua vivendo uma crise de feminicídios, com ocorrência recorrente de agressões e homicídios motivados por ódio à condição feminina.
Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Ipea, no período entre 2013 e 2023 mais de 47 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. Só em 2023, foram registradas 3.903 vítimas — uma média de cerca de 13 mulheres por dia.
A violência não letal também avança: em 2023, foram notificados 275.275 casos de violência contra mulheres — 64,3% deles classificadas como violência doméstica ou intrafamiliar.
A cor da violência importa: mulheres negras, que já enfrentam racismo estrutural, representam a maioria das vítimas — em 2023, correspondendo a cerca de 68% dos homicídios femininos.
Esses dados revelam que a violência contra mulheres não é um problema pontual — é estrutural, persistente e interseccional.
O que o caso do CEFET‑RJ revela?
A violência não se limita ao âmbito doméstico ou privado; ela pode se manifestar também em espaços públicos e institucionais — incluindo unidades de ensino.
Que um servidor acusado de atirar em colegas tenha sido afastado e, mesmo assim, permitido retornar à atividade evidencia falhas graves nas práticas administrativas, de prevenção e de acolhimento.
Esse tipo de crime — motivado por misoginia, ódio ou desprezo pela condição de mulher — deixa claro que a educação, por si só, não garante segurança ou equidade se não estiver acompanhada de compromisso institucional com a proteção de mulheres.
Por que instituições federais de ensino devem dar o exemplo?
As instituições federais de ensino — como o CEFET, os campi, centros universitários — têm papel central: formam cidadãs e cidadãos, profissionais, futuros líderes. Ao reproduzir (por ação ou omissão) a cultura da violência e da impunidade, contra mulheres e minorias, elas perpetuam a banalização da misoginia. Ao contrário, devem ser espaços de acolhimento, de educação política, de igualdade de gênero — e de prevenção real à violência.
O que está em jogo não é apenas segurança individual, mas a legitimidade da educação pública, a democracia, os valores de justiça e dignidade.
Um chamado urgente: não normalizar essas tragédias!
Este não é um acidente — é uma tragédia anunciada pela persistência de estruturas patriarcais. Negar isso é naturalizar a violência. Ao assumir essa realidade, o Estado, as instituições de ensino e toda a sociedade devem responder com empenho: políticas de proteção, segurança, apoio às vítimas, educação de gênero, responsabilidade institucional.
Que dezembro não signifique apenas o encerramento simbólico de campanhas — mas o começo de ações concretas, permanentes, transformadoras. Que o “mais além da denúncia” seja o compromisso: com vidas, com dignidade, com a igualdade real. Sem apagamentos.
O Sint‑IFESGO reafirma sua solidariedade às famílias das vítimas, às servidoras, a todas as mulheres feridas por essa cultura de violência — e conclama toda comunidade acadêmica, cada campus, cada instituição pública a se engajar com urgência nessa luta.
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