CORTES DE TEMER AMEAÇAM PROPOSTA DE ENSINO DOS INSTITUTOS FEDERAIS

CORTES DE TEMER AMEAÇAM PROPOSTA DE ENSINO DOS INSTITUTOS FEDERAIS
CORTES DE TEMER AMEAÇAM PROPOSTA DE ENSINO DOS INSTITUTOS FEDERAIS

Até o dia 10 de outubro, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia receberam apenas 60% do investimento previsto para 2017. Do total de R$ 565 milhões foram liberados pelo Ministério da Educação (MEC) somente R$ 339,4 milhões, de acordo com informações do Estado de S. Paulo.

Os Institutos Federais foram criados com a proposta de substituir Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) que são considerados o marco inicial do ensino profissional, científico e tecnológico no país. Já considerados de excelência na área do ensino profissionalizante, eles se tornaram referência também de desempenho e abrangência de curso com a estruturação dos IFs, como são conhecidos os Institutos Federais, em 2008 durante o governo Lula (PT) com o então Ministro da Educação Fernando Haddad (PT).

Os novos institutos não só aumentaram a quantidade de cursos, mas também interiorizaram e expandiram territorialmente o ensino técnico de qualidade. No caso do desempenho escolar, as notas dos alunos da rede federal de ensino são semelhantes à de países como o Canadá e Austrália, chegando a superar as notas das redes particulares de ensino em matemática e ciências.

Até 2016, as unidades e os cursos de ensino médio técnico, graduação e pós-graduação continuavam crescendo, mas agora, com o governo Michel Temer, os IFs vêm sofrendo com inúmeros cortes que afetam a educação pública no país.

Para o especialista Gaudêncio Frigotto, professor titular da Faculdade de Educação da UERJ e Doutor em Ciências Humanas e Educação pela PUC-SP, houve um grande avanço nas políticas educacionais com os Institutos Federais e agora um grande retrocesso:

“A expansão da educação tecnológica e técnica, mesmo dentro de um processo contraditório e com problemas, foi a política educacional pública de maior expressão e alcance dos Governos Lula em especial, mas também, com menor ênfase no governo Dilma. Uma das vinganças do governo golpista é liquidar com os IFs e o ensino médio integrado”, explicou Gaudêncio em entrevista ao Portal Vermelho.

Entre 2014 e 2017, os investimentos do MEC nos institutos caíram R$ 1,38 bilhão para R$ 565 milhões este ano. Os impactos são desastrosos e afetarão inclusive a expansão física das unidades. Desde 2014 o total de campis dos institutos subiu de 578 para 644 locais de ensino.

Para além disso, as unidades construídas já sofrem esses impactos. Segundo informações do Estado de S. Paulo, o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) reduziu o número de pessoas que fazem limpeza, vigilância, manutenção e apoio administrativo. O pró-reitor de administração do IFSP ponderou que com a redução foi possível fechar as contas este ano, o que não deve acontecer em 2018 por conta da correção da inflação que elevará os custos dos serviços.

A situação é mais drástica no caso do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Com 17 campis nos estados, a unidade de Grande Porto Alegre que tinha previsão para abrir 1,2 mil vagas e com novas ofertas de cursos continua com apenas 250 alunos e sem abertura do curso de Enfermagem, por exemplo.

Nereide Saviani, doutora em História e Filosofia da Educação pela PUC-SP e diretora da Escola Nacional de Formação João Amazonas, analisou tal cenário e, quando questionada sobre os impactos dos cortes e sobre a redução da expansão e do fechamento dos IFs, Nereide ponderou:

“É possível, mas é mais difícil de se fechar uma universidade ou um instituto porque o corpo docente ‘segura as pontas’, mesmo que os professores estejam com salário atrasado, eles acabam comprando aparelhagem do próprio bolso. Como a lâmpada do microscópio que queima e o governo não manda verba. [Para que os estudos e atividades não parem], os professores fazem uma vaquinha e isso tem um problema sério porque algumas universidades criam fundações para angariar dinheiro e podem chegar a cobrar dos alunos o que acaba rompendo a ideia de gratuidade e do caráter público [da educação]. Então, é muito sério o que está acontecendo com as instituições de ensino porque com isso, as [instituições] privadas estão tendo toda liberdade que as empresas têm de cobrar [por serviços prestados]. É a educação como mercadoria”, explicou Nereide.

Os cortes devem diminuir os recursos estruturais dos institutos e na demissão ou novas contratações de professores com menos formação já que hoje boa parte dos docentes do instituto tem mestrado e doutorado, o que aumenta o nível da qualidade de ensino.

“Mantendo os professores eles ainda conseguem segurar as pontas, mas dependendo do tipo de curso, o corte impacta também na qualidade de laboratórios e nos cursos que fazem pesquisas e até na própria questão do material didático. Mas, o problema é que eles também acabam demitindo professores. Com isso, muito possivelmente acabarão demitindo mestres e doutores para ter professores ganhando menos, aumentando número de alunos na sala de aula. Ou seja, eles fazem a redução do custo benefício e os professores que dão aula em um curso específico passam a dar aula para vários cursos, formando salas de aula auditórios como as faculdades particulares já fazem”, concluiu Nereide Saviani.

Fonte: Portal Vermelho

Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das
Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás
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