Terça-feira, 11 de outubro de 2011
Irritadas com o endurecimento da política do governo com os grevistas, as centrais sindicais resolveram peitar a presidente Dilma Rousseff. Os funcionários dos Correios e os bancários — parados há 28 e 15 dias, respectivamente — avisaram que não vão aceitar que a interferência da equipe econômica limite as possibilidades de ganhos salariais acima da inflação e prometeram intensificar as mobilizações. Eles reclamam que, diferentemente da postura adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a atual chefe do Executivo decidiu ter mais rigor contra os trabalhadores, base de seu partido, o PT. Além de negar aumentos nos contracheques, emissários do Palácio do Planalto já mandaram os dirigentes das estatais descontarem os dias parados dos grevistas.
“A postura da presidente Dilma é uma surpresa para o movimento sindical. Nós trabalhamos para eleger esse governo, mas ele se mostra intransigente e não quer sentar para discutir. Nas greves que fizemos no governo Lula, tivemos sempre ganho real”, afirmou Cláudio Roberto de Oliveira e Silva, membro do comando de negociação dos grevistas dos Correios.
O governo tem endurecido o discurso nas negociações sob a alegação de que o país precisa fazer um ajuste fiscal por causa dos riscos que a crise vivida nos Estados Unidos e na Europa representam para a economia nacional. Mas esse argumento não convence os sindicatos. “O governo deveria reconhecer que a greve é um direito e ter sensibilidade para fazer uma negociação. No caso dos bancários, ele deveria ficar contra os banqueiros, os que mais faturam com os juros altos, e não contra os trabalhadores”, avaliou João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical.
Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), disse ontem que a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) nem sequer respondeu a uma carta enviada pela categoria na última terça-feira solicitando a retomada das negociações. “Enxergamos a postura do governo como de patrão, de banqueiro. A ameaça de cortar o ponto vai na contramão do diálogo”, avaliou.
A tentativa do governo, nas primeiras greves da gestão da presidente Dilma, é fixar um padrão de relacionamento com os grevistas. O objetivo é não apenas mostrar que o jogo será difícil, como também desencorajar paralisações anunciadas em outras áreas. Apesar da queda de braço, os petroleiros se reúnem hoje, no Rio de Janeiro, em um seminário justamente para preparar uma greve.
O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, disse que a Petrobras já prometeu começar a pagar, este mês, a reposição da inflação, calculada em 7,23%. Mas a categoria luta para ter ganho real de 10% e melhoria nas condições de segurança. “Ao menos 15 pessoas morreram em acidentes de trabalho apenas este ano. Se a empresa não apresentar uma proposta, o caminho é a greve”, ameaçou.
Dias parados
Depois de recusar, na semana passada, a proposta de aumento de R$ 60, reposição da inflação de 6,87% e abono de R$ 800 (em parcela única), os funcionários dos Correios optaram por partir para o dissídio coletivo, que será julgado às 16h de hoje no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A categoria pede elevação de R$ 200 no salário, além da inflação. Mas a principal briga é para que os dias parados não sejam descontados. “No governo Lula, os dias parados foram negociados por meio de horas extras ou simplesmene abonados”, disse Cláudio Roberto de Oliveira e Silva, membro do comando de negociação dos grevistas da empresa.
Por: Cristiane Bonfanti
Fonte: Blog do servidor – www.dzai.com.br