Nos governos do PT, o Sindicato dos Bancários de São Paulo contribuiu com dois ministros-chave, nesses 12 anos: Luiz Gushiken, que foi da Secretaria de Comunicação Social e homem forte no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, e Ricardo Berzoini, que já está em seu terceiro ministério, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Antes ele ocupou as pastas do Trabalho e da Previdência. Berzoini, que também presidiu o PT, e Gushiken eram deputados federais. A cadeia se quebrou este ano porque Berzoini não se candidatou e o deputado estadual escolhido para sucedê-lo e manter a tradição do Sindicato dos Bancários, Luiz Claudio Marcolino, não se elegeu. Marcolino não é uma exceção.
A bancada trabalhista na Câmara, nessas eleições, sofreu o seu pior revés, desde que o sindicalista Lula da Silva chegou ao Palácio do Planalto, em 2002. Eles são 83 deputados das mais diversas origens sindicais. A partir de 2015 serão apenas 47. Uma quebra de quase 50% na representação. Isso num momento em que os sindicalistas reconhecem na presidente Dilma Rousseff um governo até mais efetivo que o de Lula, em relação a aprovação de projetos de interesse da classe trabalhadora – o ex-presidente recebia os sindicalistas antes de anunciar suas decisões, tomava cafezinho com eles, mas foi Dilma quem desatou o nó de pelo menos 14 proposições recuperando ou criando direitos. Com Lula, em oito anos, foram nove.
Hoje Dilma se encontrará, em São Paulo, com os sindicalistas que a apoiam nas cinco maiores centrais sindicais do país, inclusive da Força Sindical, que está majoritariamente com o candidato Aécio Neves, do PSDB, a fim de gravar para o programa de televisão da presidente no horário eleitoral gratuito. Não deixa de ser uma mudança na relação da presidente com as centrais, que antes reclamavam do tratamento dispensado por ela aos sindicalistas, até o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) fazer o levantamento sobre os projetos aprovados nos três governos do PT. Entre as “conquistas” do atual período os sindicalistas relacionam a PEC do Trabalho Escravo, a PEC das Domésticas, a ampliação do aviso prévio de 30 para até 90 dias e a lei que criou a Certidão Negativa de Débito Trabalhista.
A perda de poder de fogo dos sindicalistas ocorre num ambiente em que a representação trabalhista deve ser mais exigida no Congresso, seja o futuro presidente Dilma Rousseff ou o candidato desafiante da oposição, Aécio Neves. É que de outro lado a bancada empresarial, embora também tenha decrescido, mantém sua força, com a eleição de cerca de 190 empresários, segundo o levantamento preliminar do Diap. “A redução acontece numa conjuntura em que os sindicalistas mais precisariam de uma bancada forte”, diz o pesquisador Antonio Augusto Queiroz, do Diap, “num ambiente em que não há margem para o governo fazer novas concessões para a redução de custos e aumento de competitividade”.
Como não há no horizonte a expectativa de o governo fazer novas desonerações de folha ou dar incentivos fiscais e creditícios, como fez até agora, a tendência é a CNI tentar levar adiante sua agenda no Congresso, o que entre outras coisas significa votar o projeto da terceirização e aquele que impõe a prevalência da legislação sobre o que é negociado entre patrões e empregados. “Os empresários só não fizeram isso antes porque não queriam afrontar o governo, enquanto este fazia as concessões para redução de custos”, diz Antonio Augusto Queiroz.
Antes de Lula chegar ao governo, havia 44 sindicalistas na Câmara. Em 2002, na onda vermelha que levou o PT ao Palácio do Planalto, este número saltou para 74. Na eleição seguinte, em 2006, o primeiro baque na era Lula: o número de sindicalistas caiu para 54, na esteira do escândalo do mensalão. Mas em 2010 a bancada chegou a 83 deputados. Dos 47 que devem tomar posse em 2015, 32 foram reeleitos. Apenas 15 são novos. A eleição levou nomes como Jorge Bittar (PT-RJ) e Fernando Ferro (PT-PE), do movimento sindical dos engenheiros, que são duas referências na área de infraestrutura da Câmara dos Deputados.
O pesquisador Queiroz enumera pelo menos três motivos que explicariam a redução da bancada de sindicalistas. O primeiro é a decisão dos partidos de dar prioridade a candidatos com acesso aos financiadores de campanha ou oriundos da máquina pública ou partidária. O segundo são as coligações “estapafúrdicas”, sem nenhum conteúdo programático e, por fim, a preferência pelos “puxadores de voto”, a fim de assegurar recursos do fundo partidário e tempo de televisão. “O militante perdeu espaço para o interesse eleitoral”, afirma Antonio Augusto. O pesquisador prevê problemas para a mediação dos interesses dos trabalhadores com as instituições, de um modo geral, a partir da posse dos novos deputados, em 2015. (Fonte: Valor Econômico)