Nesta semana, mesmo testando positivo para o coronavírus, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, foi a uma reunião de três horas no Palácio do Planalto. Essa situação, somada à alta incidência de pessoas infectadas no entorno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tem elevado o nível de preocupação dos funcionários da Presidência.
Entre as demandas dos servidores está a edição de medidas que permitam controlar o ambiente de forma mais eficaz e frear a propagação do coronavírus dentro do centro do poder da República.
O grande entrave é o próprio presidente da República, que defendeu, nesta semana, o fim do que chamou de “confinamento em massa” da população. Ele prega, por outro lado, o chamado “isolamento vertical”, que deixa apenas pessoas do grupo de risco em isolamento.
Paralelo a isso, Bolsonaro continua frequentando diariamente o palácio, onde despacha e convoca reuniões e coletivas de imprensa. “Enquanto ele está vindo para cá, como é que a gente vai parar?”, queixou-se uma servidora, enquanto Bolsonaro minimizava, na frente das Câmeras, os sintomas da doença que surgiu na China e que virou uma pandemia classificando-a como “uma gripezinha”.
“Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”, disse o presidente, em entrevista coletiva, na sexta-feira (20/03) passada.
Parte do núcleo militar do Planalto já se mostrou preocupado perante seus funcionários com as condições atuais de trabalho. O próprio vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), desautorizou a fala de Bolsonaro na qual ele pregava o fim do confinamento e disse que a política do governo era o isolamento social.
“A posição do nosso governo por enquanto é uma só. A posição do governo é o isolamento e distanciamento social. Está sendo discutido, e ontem [terça-feira] o presidente buscou colocar e pode ser que ele tenha se expressado de uma forma que, digamos assim, não foi a melhor”, disse Mourão na quarta-feira (25/03).
A portaria regendo a situação no Planalto está em vigor desde o último fim de semana e não institui o teletrabalho para todos. De acordo com a Secretaria Geral, servidores que apresentam sintomas podem ficar em casa mediante a apresentação de atestado médico. Aqueles que viajaram para o exterior devem ficar 7 dias em casa, de quarentena, em teletrabalho.
O problema é com quem não se enquadra nestes dois perfis e teme ser infectado. “A apreensão é grande da turma aqui, porque sabemos que a contaminação não é pequena. Muitas pessoas interagiram com o pessoal da Secom e a gente sabe que a contaminação é grande”, disse um dos funcionários. “Todos estamos tensos”, enfatizou.
O secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, foi o primeiro a testar positivo para o novo coronavírus.
“Estamos na expectativa de uma nova portaria, porque a que saiu é muito tímida. Eu tenho filho em idade escolar e não sei como isso vai funcionar. Além disso, tem muitas pessoas com doenças crônicas e além de não pegar, a gente tem que ter a responsabilidade de não repassar”, disse uma servidora. Os funcionários pediram para falar sem se identificar temendo represálias por se posicionar de forma contrária ao presidente.
“Sei que na AGU já adotaram trabalho remoto, mas aqui não está assim. Tem um sentimento de que não pode parar. É claro que conta a postura do presidente para se tomar uma decisão”, disse um funcionário.
Fonte: Metrópoles