GOVERNO ABRE COFRE EM DIA DE CAOS AÉREO

PF impõe caos ao país
PF impõe caos ao país
Autor(es): » PRISCILLA OLIVEIRA
Correio Braziliense – 17/08/2012
 

 

De novo, o pior sobrou para a população. Como anunciado na véspera, policiais federais em greve transformaram em inferno, ontem, a vida de passageiros nos principais aeroportos do país. Em Brasília, a fila, estimada em 500m de comprimento, deu a volta no saguão e foi parar fora do terminal de embarque. Até um ex-grevista de carteirinha, o governador Jaques Wagner, da Bahia, sentiu o abuso na pele e cobrou respeito. “O salário deles é pago por todos que estão aqui na fila”, reclamou. Na Esplanada, grevistas fizeram o enterro simbólico de Dilma. E o governo, em mais uma tentativa de pôr um fim ao movimento, apresentou nova proposta. Entre as categorias beneficiadas estão servidores civis do Executivo(com reajuste de 15,8%, divididos entre 2013 e 2015) e professores (com até 45%).

 

Policiais federais promovem “quinta-feira negra” ao pararem aeroportos, portos, rodovias e postos de fronteira. Governo consegue liminar para a volta da normalidade do trabalho. Se não cumprirem, grevistas pagarão multa de R$ 200 mil por dia

A Polícia Federal cumpriu a promessa e parou o país ontem com a Operação Blackout. Aeroportos, fronteiras e portos foram alvo da manifestação que causou filas e irritação a quem pretendia viajar. A ordem era revistar uma por uma as bagagens de passageiros que embarcassem em voos nacionais e internacionais nos principais aeroportos do país, vasculhar todos os carros que cruzassem os postos de fiscalização nas fronteiras brasileiras e fazer uma varredura nos portos.

A “quinta-feira negra” foi sinônimo de muito transtorno. No aeroporto internacional de Brasília, a fila de passageiros ficou tão longa que deu a volta no saguão e saiu para fora do terminal. Não à toa, o protesto dos policiais, acusados pela Advocacia-Geral da União (AGU), de abuso de poder, causou revolta entre os passageiros. A enfermeira Marilei, que não quis informar o sobrenome, não se conformou com as explicações nem com os bombons distribuídos pelos agentes e protestou, aos gritos, que a manifestação era absurda e mal organizada, prejudicando somente a população.

“O meu salário também é ruim, e nem por isso eu estou adiando o atendimento aos pacientes. Eu honro o meu salário. Vai me dizer que ninguém aí sabia qual era o salário da polícia quando decidiu fazer o concurso? Todos fizeram esta prova conscientes”, afirmou Marilei. Vários passageiros quase perderam o voo. Foi necessário que funcionários das companhias aéreas interviessem para os prejudicados passassem à frente nas filas.

Com exceção de gestantes, idosos e pessoas acompanhadas de crianças de colo, todos tiveram que enfrentar o suplício imposto pelos policiais, inclusive políticos que tentavam embarcar para as respectivas cidades. O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), ficou irritado com o protesto. Ele afirmou que “qualquer manifestação é legítima, desde que não atinja o direito do outro”. Para o governador, movimentos que prejudicam somente a população são, na verdade, negativos para as categorias. “Atos como esse prejudicam a população e acabam gerando antipatia. O salário deles é pago com o Orçamento da União, que, por sua vez, é pago por todos que estão aqui na fila”, reclamou.

Wagner tentou burlar a fila, alegando que estava atrasado, mas foi impedido de passar pelos agentes. O deputado Odair Cunha (PT), relator da CPMI do Cachoeira, também teve que esperar. Mais tranquilo, disse que acredita nas negociações com a categoria. Como cidadão, porém, “estava sofrendo como todo mundo”.

População vulnerável
Apesar da revolta da população, os policiais não se intimidaram, pois acreditam que têm o apoio da maioria. “Escutamos muito mais elogios e vimos muito mais sorrisos do que recebemos críticas”, afirmou a agente Fernanda Cerqueira, que distribuía panfletos e chocolates aos que passageiros que aguardavam na fila. Em Brasília, o protesto reuniu cerca de 550 servidores da PF, sendo 400 policiais e 150 agentes administrativos. Eles ocuparam as áreas de embarque e de desembarque dos terminais nacionais e internacionais. Na estimativa da Polícia Militar, a fila de passageiros para o embarque tinha cerca de 500 metros por volta das 17h.

Para o Presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal (Sindipol/DF), Jonas Leal, a operação padrão deveria ser realizada todos os dias. Segundo ele, o trabalho de fiscalização de passageiros e bagagens no aeroporto da capital do país funciona é feito por apenas três agente da PF. O restante do serviço é executado por 40 funcionários terceirizados, o que, na visão do sindicalista, causa insegurança na população. “Todas as áreas tem servidores não concursados, inclusive o controle de entrada e saída de passageiros do país. Essas pessoas não tiveram o treinamento que a polícia tem e, mesmo assim, têm acesso a todas as informações pessoais dos passageiros. Nome, telefone, CPF, endereço residencial. Todos ficam vulneráveis.”

No restante do país, a situação não foi diferente. Nos aeroportos de Porto Alegre, Curitiba, Guarulhos, Pernambuco, Fortaleza, Campinas e Rio de Janeiro as filas de passageiros foram gigantescas e as queixas, gerais. Em Rondonópolis, em Mato Grosso, a BR-364 foi bloqueada para que os agentes fiscalizassem todos os veículos que seguiam viagem no sentido Cuiabá-Rondonópolis. Segundo a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), a verificação minuciosa da documentação dos veículos, de seus condutores e, no caso de caminhões, as notas fiscais, causou congestionamento de cerca de 10km. Na Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, quem tentou sair ou entrar no país aguardou em filas de mais de três horas. A Fenapef informou ainda que a delegacia da PF em Foz está paralisada, inclusive o houve a suspensão do patrulhamento do lago de Itaipu.

Passaportes suspensos
Com a adesão dos servidores administrativos da Polícia Federal à operação padrão, a emissão de passaportes também foi paralisada. Apenas um funcionário ficou de plantão em cada posto de atendimento para resolver casos de emergência. Segundo o Sindicato Nacional dos Servidores do Plano de Cargos da Polícia Federal (Sinpec-DF), em Brasília são emitidos 500 passaportes por dia.

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