Murilo Ferraz participou da Roda de Conversa: Práticas pedagógicas para a inclusão de alunos neurodivergentes, ao lado de docentes e discentes de diversas unidades.
Na última, quarta-feira, 06 de agosto, o TAE e Vice Coordenador de Imprensa e Comunicação do SINT-IFESGO, Murilo Ferraz, participou da Semana de Planejamento Pedagógico do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP-UFG).
Murilo Ferraz é cientista da computação e trabalha como analista de tecnologia da informação na Reitoria Digital da UFG. Oriundo Jataí, veio à Goiânia com 17 anos, em 2004, para cursar sua graduação no Instituto de Informática (INF). Ele é também especialista em assessoria de comunicação e marketing pela Faculdade de Informação e Comunicação (FIC).
Autista, Murilo compartilhou suas experiências enquanto pessoa neurodivergente que conseguiu se inserir no mercado de trabalho, porém chamou atenção para o chamado ‘viés do sobrevivente’, quando apenas se nota os casos de sucesso e se invisibiliza os fracassos, a dificuldade de inserção profissional e mesmo a impossibilidade de ingresso no ensino superior para a maioria dos autistas.
“Todos nós chegamos na faculdade e não é uma realidade para a maioria dos autistas, que não vai conseguir se colocar no mercado de trabalho.”
Ele também chamou a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos autistas de suporte nível 1, considerado leve, mas que geram uma forte contradição entre a aparente normalidade e os desafios de adaptação enfrentados. Comentou ainda sobre os estereótipos da genialidade do autista, o que gera expectativas difusas sobre eles, por se presumir que irão se destacar em tarefas específicas, o que nem sempre é o caso.
Para Murilo, algo comum aos autistas é a sensação de desarranjo diante do que é esperado, uma certeza da própria diferença em relação ao outro, o que muitas vezes não é reconhecido por meio de um diagnóstico. Daí a importância de se representar o espectro autista como um quadro clínico neuodivergente com respaldo social e tratamento pedagógico adequado, permitindo compartilhar responsabilidades e evitar estigmas.
Por outro lado, os autistas têm um potencial oriundo da sua fixação por determinadas atividades. Nesse sentido, Murilo comentou sobre o seu hiperfoco em podcasts, quando passou a acompanhar mais de 100 programas, até que, com a ajuda de um amigo, lançou o seu próprio, chamado Filosofia POP.
Dessa forma, passou a se interessar pela comunicação, o que o levou a se integrar à política da Secretaria de Comunicação (SECOM) da UFG para a formação de agentes de comunicação dentro das unidades acadêmicas, no seu caso, o INF. Isso o levou à se especializar em assessoria de comunicação e marketing na FIC, onde trabalhou em um projeto de podcast.
Especial importância para o planejamento pedagógico de uma instituição de ensino é a análise feita por Murilo sobre as áreas de comprometimento dos autistas, para além da questão estritamente social, quais sejam: coordenação motora e linguagem.
A exemplo destes comprometimentos, Murilo menciona que muitos autistas são literais, não assimilam ironia, têm uma grande sensibilidade e sentidos aguçados. Porém, essas limitações se dão de forma muito variada em cada pessoa e seria isso justamente o que define o conceito de espectro, ao mesmo tempo tornando bastante complexo o atendimento aos diferentes casos. Ele ressalta também a necessidade de atenção à saúde mental dos autistas, já que sofrem com as limitações advindas do espectro e com as frustrações impostas por uma sociedade que muitas vezes nega as diferenças e segrega os divergentes.
Alguns casos dessa natureza persistem dentro da UFG e foram pautados com o intuito de aprimorar o convívio dentro da universidade e avançar com o processo de inclusão. Por fim, Murilo comentou que a implantação do ponto eletrônico na UFG deve dificultar sua rotina enquanto autista, já que padroniza o expediente e desconsidera a especificidade das demandas em sua unidade.







