Para promover a retomada econômica pós-pandemia, com reaquecimento da atividade e criação de empregos, o Brasil precisará de investimento público em volume muito superior ao que o governo está disposto a fazer. A avaliação é do economista Fernando de Aquino, coordenador da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Até o momento, a iniciativa anunciada pelo governo federal para reanimar a economia após a crise sanitária é o plano Pró-Brasil, idealizado pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e apoiado pela ala militar do governo. O programa prevê R$ 30 bilhões em investimentos públicos em três anos mais R$ 250 bilhões de contratos de concessões, ou seja, recursos privados.
De acordo com Fernando de Aquino, os R$ 30 bilhões em gastos públicos são “muito pouco”. “Os R$ 30 bilhões não dá para nada. É muito pouco para você estimular a economia. O que a gente precisaria seriam gastos públicos em uma magnitude bem maior, em infraestrutura pública e também investimentos em ciência, tecnologia e inovação”, analisa.
Já a concretização dos R$ 250 bilhões em capital privado é incerta, afirma o economista. “Outros governos têm tentado isso há anos, mas é difícil conseguir que o setor privado se interesse. É uma intenção que o governo coloca, mas que não tem dado certo. Fica mais difícil agora, nessa conjuntura [da pandemia]”, ressalta.
Segundo o economista, para dar fôlego a uma economia em recessão, o governo deveria cogitar liberar pelo menos R$ 200 bilhões para investimento público. “Vamos dizer que [no mínimo este valor] para começar a conversar”, afirma. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Senado Federal aprovou um pacote de estímulo de US$ 2 trilhões – o equivalente a mais de R$ 10 trilhões.
A dificuldade, afirma, é que a equipe econômica não está sendo pragmática. “O Brasil não está querendo entrar nessa. A equipe econômica do governo é muito ideológica e pouco pragmática. Para eles, nada que o setor público faz vale a pena. Preferem ficar patinando a ter que acionar essa coisa de o setor público ter um papel mais ativo. Só vale crescer se for com o setor privado puxando. Ficam excessivamente preocupados com isso em vez de se preocupar com o desemprego, que é uma coisa real”, diz o economista.
Aquino ressalta que a retomada com o setor privado é algo que vem sendo tentado desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, quando a mandatária colocou Joaquim Levy no antigo Ministério da Fazenda e o então ministro promoveu uma agenda de cortes de gastos. “A gente está há cinco anos tentando isso, cortar gasto público para ver se incentiva o setor privado a gastar e a gente não tem conseguido nada”, destaca.
Antes mesmo de o Brasil ser atingido pelo novo coronavírus e a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificar a situação do vírus no mundo como pandemia, o Brasil patinava no crescimento. Em 2019, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e riquezas produzidos em um país) ficou em 1,1%, abaixo dos dois anos de governo Temer, apesar da aprovação da Reforma da Previdência vendida como solução dos problemas.
Fonte: CTB