HUB-UnB – UMA HISTÓRIA DE AMOR, MEDO E INQUIETAÇÃO
Eu, como muitos outros funcionários concursados do Hospital Universitário de Brasília, venho construindo a minha história profissional e me dedicando a prestar a melhor assistência possível aos usuários. Muitas horas foram investidas dentro e fora do hospital para me capacitar, organizar programas, criar rotinas, compartilhar conhecimento, formar estudantes e residentes, e poder oferecer um bom atendimento. Passei a ver minha equipe como parceiros, os alunos como estímulo para buscar mais conhecimento e os pacientes como pedras fundamentais para o meu desenvolvimento profissional e pessoal. Cresci, amadureci e me tornei uma pessoa diferente trabalhando nesse hospital. Há algum tempo o HUB se tornou mais do que um local de trabalho.
Quem trabalha em ambiente hospitalar sabe a quê me refiro. Conhece a forma como somos transformados desde o primeiro contato com um paciente e sua história de vida. Nos envolvemos, sofremos, comemoramos e seguimos adiante reformulando o que for possível para ajudá-los a enfrentar os percalços desencadeados por um problema de saúde e seus tratamentos. Voltar para casa sabendo que fazemos a diferença na vida das pessoas é a melhor parte, “NÃO TEM PREÇO”.
Hoje, infelizmente, me pego refletindo se tanto envolvimento com o trabalho valeu a pena. Se não fosse por isso, poderia ser informada que os funcionários do HUB estão sendo requisitados pela UnB para trabalhar na universidade sem tanta inquietação. Depois de anos de amor e dedicação escutei que, no interesse da administração, os funcionários do HUB serão “convidados” a mudar de atividade, sair do ambiente hospitalar e se afastar do convívio com os pacientes. Qual a explicação? Bom, disseram que a Ebserh poderá contratar novos funcionários e a UnB está com o quadro de pessoal reduzido, “precisando de nós”.
Isso significa que somos substituíveis por qualquer um? Isso significa que nossos serviços podem ser desmontados sem perdas para os pacientes? Somos apenas mão de obra que pode ser utilizada a qualquer hora em qualquer lugar?
Me senti apenas uma peça em um tabuleiro de jogo. A Ebserh assumiu o hospital e a partir de agora irá geri-lo, a UnB resolverá seus problemas de falta de pessoal porque o planejamento não permitiu novo concurso, e os funcionários que tanto fizeram pelo hospital ao longo de tanto anos se tornaram peças dentro dessa negociação.
Além dos serviços estruturados, nos últimos anos criamos o programa de residência multiprofissional. Agora, sem preceptores que conhecem o serviço, que possuem experiência e são formados para atuar nas áreas do programa, COMO FICA O TREINAMENTO DOS RESIDENTES? Qualquer um pode treinar? Talvez a resposta dos atores desse jogo estranho seja ”sim”.
Substituíveis. Peças do maquinário. Servidores. Somos apenas estatísticas no papel e nomes em uma lista que indica quem deverá deixar o hospital nos próximos seis meses. Sim, poderemos negociar com a UnB e justificar porque queremos ficar, mas nem todos poderão ser atendidos, como foi repetido inúmeras vezes.
Pior, nenhum funcionário que trabalha com serviços administrativos será atendido, a UnB precisa de todos. Que os substitua a Ebserh. Será que por não trabalharem “diretamente” com o paciente não são influenciados por esse ambiente? Diretamente está entre aspas porque podem não ser agentes de saúde, mas são responsáveis por acolherem as demandas dos pacientes, buscam resolver problemas institucionais e ouvem as histórias de cada pessoa que passa por ali. Já me surpreendi com secretárias que sabiam detalhes da vida de um paciente que faziam toda a diferença para o tratamento dele e que, por vergonha, era ocultado da equipe de saúde. Quantas vezes vi esses funcionários fugindo um pouquinho para fazer uma visita a um paciente que teve o quadro agravado e foi internado. Isso se chama vínculo e mostra que mesmo o pessoal administrativo também pode querer permanecer nesse ambiente tão apaixonante.
Também há os que querem ir embora. Seja porque estão cansados, porque não acreditam que o HUB continuará sendo um local bom para se trabalhar ou por outros motivos que não saberia listar agora. Não comecei esse texto para falar de quem deseja ir, mas posso garantir que mesmo estes estão se sentindo apenas peças do tabuleiro. Hoje, vi pessoas apaixonadas pelo HUB se sentindo tão desvalorizadas em suas atividades que perderam a energia para tentar permanecer no hospital e estavam se perguntando “para quê continuar?”.
Durante o último ano, tentei me convencer de que não seria tão ruim assim o cenário da entrada da Ebserh. Comecei a sonhar em trabalhar num local com mais recursos e mais possibilidades de melhorar a assistência. Fui chamada de tola e ingênua inúmeras vezes. Hoje, assumo, fui tola mesmo. Não entendi que o hospital deixaria de ser visto como pertencente à universidade e que esta não manteria seus servidores trabalhando nele. Ter funcionários da UnB no hospital não fortaleceria o processo de negociação com a empresa? Não permitiria maior segurança no recebimento de alunos para estágio e treinamento? O hospital não é mais da UnB? Parece que não!
Peço desculpas pelo longo texto, mas precisava externar o que me aflige hoje quando numa reunião com representantes da UnB e da Ebserh meus piores pesadelos se tornaram realidade. Não podemos aceitar passivamente que tudo isso aconteça. Outros hospitais universitários precisam saber o que está acontecendo aqui. Não podemos deixar que esse desrespeito com aqueles que se dedicaram tanto aos hospitais universitários do Brasil se alastre e nos afaste do trabalho no qual investimos tanto tempo, amor e dedicação.
INQUIETAÇÃO, que ela tome conta de todos que estão lendo e os faça acordar. Precisamos de todos para lutar pela manutenção do pessoal dos HU’s que deseja continuar em suas atividades e serviços.
(Assinado – Servidor(a) de HU preocupado(a))